FLORA PAMPEANA: CAC-IRI.

quarta-feira, 19 de março de 2014

ANÁLISE ECOSSISTEMICA DO MATO GRANDE: PERSPECTIVAS DE IMPLANTAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DO MATO GRANDE – ARROIO GRANDE, SUL DO BRASIL.

Juliana Corrêa-Pereira[1]
José Milton Schlee Junior[2]
José Bonifácio Garcia Soares[3]
Fábio Mazim[4]

Grupo Ecológico Amantes da Natureza. Rua Osmar Machado, 895 - Arroio Grande – RS,

RESUMO
Apresenta-se um estudo de Ecologia Florestal para implantação da REBIO Mato Grande, Arroio Grande, RS. A composição específica e a estrutura comunitária da sinúsia arbórea, foram analisados pelo método dos quadrantes centrados, tendo 20 pontos amostrados, revelando-se significativo para a caracterização de árvores com diâmetro na altura do peito igual ou superior a 5cm. O Índice de Diversidade de Shannon( H’=2,55)é um dos mais altos para florestas de Restinga no estado. A estrutura florestal e a complexidade do ecossistema da REBIO possibilitam a existência de 12 espécies de mamíferos de médio e grande porte inventariados até o presente momento segundo o estudo da mastofauna sendo duas espécies ameaçadas de extinção a nível estadual.

ABSTRACT- Forest ecology to “REBIO Mato Grande” implantation, in Arroio Grande –RS is show. The specific composition and arboreal community structure were analyzed for center quadrants method, and 20 sample-points were show to be significant in the characterization of trees with a diameter greater than or equal to 5 cm. The Shannon index of diversity (H’= 2,55) is one of the highest reported for “Restinga forest” in this state. The forest structure and the REBIO ecosystem complexity make possible the existence of 12 middle and big bearing mammal species (two of these are threatened al state level) were inventoried until this time according to mastofauna study.

INTRODUÇÃO

            A Reserva Biológica do Mato Grande completou 30 anos de decreto (Decreto Estadual n° 23.798/75) no dia 12 de março de 2005, com a finalidade de evitar a perda do equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. O Grupo Ecológico Amantes da Natureza juntamente com a comunidade arroio-grandense tem lutado a mais de três anos pela implantação de uma unidade de conservação no Mato Grande como forma de assegurar a conservação e preservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida das populações locais abrangidas. Sem a sua efetiva implantação ocorre uma gradativa perda da biodiversidade do ecossistema do Mato Grande, tornando-se vulnerável o equilíbrio natural de toda a biorregião.
O GEAN através de um grupo de pesquisadores vem realizando uma série de estudos de Ecologia Florestal como ferramentas para a elaboração de um plano de zoneamento e gestão ambiental com a finalidade de implementação da Reserva Biológica do Mato Grande.
            Os objetivos desta pesquisa foram: verificar a flora fanerogâmica e a estrutura populacional da sinúsia arbórea do Mato Grande e estudar a população de mamíferos terrestres para futuros monitoramentos e/ou indicações de manejo.

ÁREA DE ESTUDO E MÉTODOS

A Reserva Biológica do Mato Grande com uma área de 5.161 ha do bioma de restinga, atualmente é de domínio privado, localiza-se no Distrito de Santa Isabel (32°08’ S, 52°44’ W), município de Arroio Grande, sul do Rio Grande do Sul (Figura 1).


O Mato Grande está localizado na Planície Costeira interna em região fisionômica natural marcada por terrenos de sedimentação recente associados geomorfologicamente as transgressões e regressões marinhas quaternárias, responsáveis pela gênese do complexo lagunar: Lagoa Mirim, canal do São Gonçalo e Laguna dos Patos.
            Inserida no Bioma de Restinga a REBIO apresenta uma complexidade biológica que possui associados ecossistemas de Banhados, Matas de Restinga Arenosa, Campos arenosos secos e úmidos. Toda esta complexidade biológica está refletida nos elementos da fauna e flora apresentando componentes florísticos pertencentes a todos contingentes migratórios da flora estadual, ressaltando a influência atlântica na fisionomia da reserva dada pela presença de Figueiras, Bromeliáceas e Orquidáceas.
Quanto à fauna, ocorrem associadas aves palustres, aves migratórias do hemisfério norte e sul tanto quanto aves florestais. Mamíferos ameaçados de Extinção a nível estadual e regional bem como espécies generalistas que possuem papel de extrema importância como dispersores em fragmentos florestais no sul do estado, e que mantém suas populações ainda viáveis em toda biorregião no Mato Grande.
A metodologia utilizada para a análise e compreensão da flora inclui levantamento quantitativo e qualitativo. A amostragem fitocenológica do componente arbóreo foi analisada através do método dos quadrantes centrados (Cottam e Curtis, 1956; Waechter e Jarenkow, 1998; Durigan, 2003). A árvore mais próxima dentro de cada quadrante com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou superior a 5cm foram amostradas, anotando-se a sua altura e distância até o ponto. Estimou-se para as espécies amostradas os parâmetros absolutos e relativos de densidade, freqüência, dominância, assim como os valores de importância (VI) e cobertura (VC), o índice de diversidade de Shannon (H’) e a equabilidade de Pielou (J’) (Magurran,1988).   
Quanto à metodologia empregada para os estudos da mastofauna, foram empregados métodos que envolvem técnicas diretas e indiretas de identificação. Para a identificação direta das espécies foram empregadas quatro armadilhas fotográficas instaladas em trilhas freqüentemente utilizadas pelos animais (Vidolin, 2000; Wemmer et al 1996; Tomas e Miranda, 2003), assim como a identificação visual e localização de carcaças. A identificação indireta foi feita através da identificação de odores, tocas, fezes e pegadas (Travi & Gaetani, 1985; Becker & Dalponte, 1991) e a utilização de armadilhas de pegadas (plots).
As armadilhas foram montadas em locais que maximizem a possibilidade de captura tais como trilhas ou locais próximos a água, distanciadas no mínimo a cada 1km de forma a possibilitar uma maior independência dos dados. Armadas por período médio de 72 horas/maquina nas saídas de campo mensais. Quirópteros e roedores pertencentes às famílias Cricetidade, Muridae, Ctenomydae e Echymydae foram omitidos do inventário em função de problemas logísticos e de identificação. A seqüência taxonômica e a nomenclatura seguem González (2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise estrutural da sinúsia arbórea, foram inventariados até o momento 20 pontos amostrais e completada a avaliação qualitativa da flora fanerogâmica de todos os ambientes dentro da REBIO-Mato Grande.
Nos três transectos realizados foram amostrados 20 pontos, totalizando uma área de trabalho de 909,327m2. A distância média estimada de 3,371m resultou em uma densidade total de 879,771 ind/ha distribuídos em 17 espécies e 13 famílias.
As espécies que se destacaram em VI foram Ficus luschnatiana (13,77), Ruprechtia laxiflora (12,35), Sideroxylum obtusifolium (11,06), Zanthoxylum rhoifolium (9,72) e Jodina rhombifolia (6,93) que acumularam 53,83% do total (Tabela 1).
Nesta organização em valores de importância observa-se a relevância das espécies oriundas do contingente migratório atlântico, definindo o aspecto fitofisionômico do Mato Grande, caracterizado pelo dossel constituído por Ficus luschnatiana e Sideroxylum obtusifolium que apresentam valores altos de dominância, assim como elevada área basal e altura; a submata é constituída por Ruprechtia laxiflora, Zanthoxylum rhoifolium e Jodina rhombifolia que possuem elevada freqüência e densidade, no entanto apresentam baixa área basal e altura (Tabela 1).
A região meridional da planície costeira apresenta uma flora tropical fortemente diluída (WAECHTER & JARENKOW, 1998), no entanto esta influência tropical se observa na floresta do Mato Grande em todas as formas de vida e ambientes, exemplificado pelo elevado número de espécies epifíticas e herbáceas: Bromeliáceas (7), Orquidáceas (7), Cactáceas (5) e Piperáceas (5) e arbustivas: Acanthaceae (1) e Rubiaceae (1).
O índice de diversidade de Shannon (2,55 nats.indivíduo-1) é um dos mais altos já registrados para as matas de restinga do sul do Rio Grande do Sul, assim como no resultado do índice de equabilidade de Pielou (J’) que foi 0,90 (Tabela 2), provavelmente influenciado pela maior continentalidade em relação a outras matas de restinga do estado, e por influência dos diversos contingentes migratórios de flora que chegam ao Mato Grande oriundos dos  corredores de diversidade como os arroios Parapó e Moreira, canal São Gonçalo.
Ao analisar a ecologia florestal do Mato Grande a riqueza específica e elevado índice de diversidade da estrutura da sinúsia arbóreo denota a extrema importância da manutenção das relações interespecíficas entre fauna e flora em toda a biorregião do Mato Grande.
Das espécies arbóreas amostradas 94% apresentam síndrome de dispersão Zoocórica, o que segundo MORELLATO (1992) é uma das principais características das florestas tropicais onde cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da floresta são adaptadas a este tipo de dispersão, o que evidencia a influência tropical e a riqueza estrutural da floresta do Mato Grande.
Tabela 1. Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies arbóreas amostradas em um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, para indivíduos com DAP≥5cm em ordem decrescente de valor de importância, onde Ni é o número de indivíduos amostrados, DA a densidade absoluta, DR a densidade relativa, FA a freqüência absoluta, FR a densidade relativa, AB a área basal, DoA a dominância absoluta, DoR a dominância relativa, IVI o índice de valor de importância e IVC o índice de valor de cobertura.
Ponto/Espécie
Ni
DA
DR(%)
FA(%)
FR(%)
AB(cm2)
DoA(cm)
DoR(%)
VI
IVC
11.1-Ficus luschnatiana
3
32,991
3,75
10
3,5
14070,346
154733,62
34,051
13,77
37,8
2.3-Ruprechtia laxiflora
15
164,96
18,75
40
14,03
1771,667
19483,27
4,28
12,35
23
2.4-Sideroxylum obtusifolium
5
54,985
6,25
25
8,77
7506,314
82548,016
18,16
11,06
24,4
1.2-Zanthoxylum rhoifolium
11
120,97
13,75
35
12,28
1293,636
14219,307
3,13
9,72
16,9
14.1-Jodina rhombifolia
6
65,982
7,5
25
8,77
1863,676
20495,113
4,51
6,93
12
14.2- Eugenia uniflora
8
87,977
10
25
8,77
465,295
5116,916
1,126
6,63
11,1
4.3-Vitex megapotamica
3
32,991
3,75
15
5,26
3774,707
41510,996
9,13
6,05
12,9
1.1-Casearia silvestris
6
65,982
7,5
20
7,01
1259,026
13845,69
3,046
5,85
10,5
2.1-Diospyrus inconstans
4
43,988
5
15
5,26
2762,209
30376,41
6,684
5,65
11,7
3.4-Eugenia uruguayensis
5
54,985
6,25
20
7,01
701,095
7710,042
1,69
4,98
7,94
5.1-Syagrus rommanzofianum
1
10,997
1,25
5
1,75
412,541
4536,772
10,979
4,66
12,2
2.1-Ficus organensis
3
32,991
3,75
10
3,5
2753,22
30277,556
6,663
4,64
10,4
5.4-Chrysophylum marginatum
5
54,985
6,25
15
5,26
983,206
10812,458
2,379
4,63
8,63
9.1-Cereus hildmanianus
2
21,994
2,5
10
3,5
729,03
8017,247
1,764
2,59
4,26
3.1-Chrysophylum gonocarpum
1
10,997
1,25
5
1,75
498,646
5483,68
1,206
1,40
2,46
17.2-Scutia buxifolia
1
10,997
1,25
5
1,75
444,133
4884,194
1,074
1,36
2,32
20.2-Erythroxylum argentinum
1
10,997
1,25
5
1,75
31,831
350,05
0,077
1,03
1,33

Tabela 2. Levantamentos fitossociológicos realizados no sul do Brasil, indicando o autor, a localização da área de estudo, os métodos de amostragem, número de espécies (Ne), densidade total por área (DTA), o índice de diversidade de Shannon (H’) e o índice de equabilidade de Pielou (J’). 
Fonte
Método
Ne
DTA
H’
J’
(ind/ha)
SCHLEE Jr., 2000
Parcelas
34
1224
2,53
0,71
Capão do Leão, RS
0,5 ha
31°47’S, 52°15’W

Área de Formações Pioneiras

KILCA, 2002
Parcelas




Rio Piratini, RS
0,5 ha
37
2202
2,87
0,79
31°54’S, 52°39’W
0,5 ha
29
1734
2,31
0,69
Floresta Estacional Semidecidual





CORRÊA-PEREIRA, 2004
Parcelas
32
1676
2,64
0,76
Arroio Grande, RS
0,5 ha
32°04’S, 53°05'W

Floresta Estacional Semidecidual

Este estudo
Quadrantes
17
880
2,55
0,90
Arroio Grande, RS
20 pontos




32°08'S, 52°44'W





Área de Formações Pioneiras





WAECHTER & JARENKOW, 1998
Quadrantes
12
791
1,886

Taim, RS
30 pontos




32°30' a 32°50'S, 52°20' a 52°40'W





Área de Formações Pioneiras





Tabela 3. Relação das espécies amostradas em um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, Arroio Grande, RS, com a categoria sucessional (Cat. Suc.), onde Pio=pioneira, Sin=secundária inicial, Sta=secundária tardia; com síndrome de dispersão (Sín. Disp.), onde Ane= anemocórica, Aut= autocória e Zoo= zoocória; e com os contingentes migratórios.
Família
Espécie
Nome popular
Cat. Suc.
Sín. Disp.
Contigente
Flacourtiaceae
Casearia sylvestris
chá-de-bugre
Sin
Zoo
pantropical
Rutaceae
Zanthoxylum rhoifolium
Mamica-de-cadela
Sin
Zoo
pantropical
Moraceae
Ficus organensis
figueira-de-folha-miúda
Sta
Zoo
pantropical
Ebenaceae
Diospyrus inconstans
maria-preta
Sta
Zoo
pantropical
Polygonaceae
Ruprechtia laxifolia
marmeleiro-do-mato
Sin
Ane
oeste
Sapotaceae
Sideroxylum obtusifolium
Quixadeira
Sta
Zoo
anfiatlântico
Sapotaceae
Chrysophylum gonocarpum
aguaí-da-serra
Sta
Zoo
pantropical
Myrtaceae
Eugenia uruguayensis
Batinga-vermelha
Sta
Zoo
pantropical
Lamiaceae
Vitex magapotamica
Tarumã
Sta
Zoo
pantropical
Arecaceae
Syagrus rommanzofiana
Gerivá
Sin
Zoo
neotropical
Sapotaceae
Chrysophylum marginatum
aguaí-vermelho
Pio
Zoo
pantropical
Cactaceae
Cereus hildimanianus
mandacarú
Sta
Zoo
neotropical
Moraceae
Ficus luschnatiana
figueira-de-folha-grande
Sta
Zoo
pantropical
Santalacaceae
Jodina rhombifolia
cancorosa-de-três-pontas
Sta
Zoo
chaquenho
Myrtaceae
Eugenia uniflora
pitangueira
Sin
Zoo
pantropical
Rhamnaceae
Scutia buxifolia
Corunilha
Sin
Zoo
pantropical
Erythroxylaceae
Erythroxylum argentinum
Cocão
Sta
Zoo
pantropical

Quanto a analise da mastofauna ocorrente na região de estudo, à exceção dos quirópteros e dos roedores pertencentes às Famílias Cricetidae, Muridae, Ctenomydae e Echymydae, omitidos em função de problemas logísticos e de identificação, foram registradas 12 espécies de mamíferos pertencentes a 09 famílias (Tabela 4). Dentre as espécies encontradas, o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis) são consideradas ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul (Marques et al., 2002). O gato-maracajá (Leopardus wiedii), igualmente ameaçado, carece de confirmação. Entretanto, a ocorrência desse felino é esperada, considerando que foi registrado em estudo anterior em área de geomorfologia e vegetação similar à área de estudo. Sendo considerada uma espécie de hábitos principalmente arborícola, a presença deste felino provavelmente ocorra devido ao uso dos corredores de mata ciliar que ligam ambientes florestais da Serra do Sudeste com ambientes de Restinga da Planície Costeira.
Outras espécies comumente observadas no sul do Rio Grande do Sul (MAZIM et al, 2002; Mazim & Dias, 2003; Mazim et al., 2003a, b) não foram detectadas durante o período de estudo, embora tenham sido registradas no município, em outras oportunidades ou localidades pertencentes à Planície Costeira: cuíca-de-cauda-grossa (Lutreolina crassicaudata)– carcaça localizada na Estância Santa Helena em 2000; tatu-peludo (Euphractus sexcinctus) – indivíduo observado nesta mesma propriedade em 1999 e registrado com armadilha fotográfica em 2004.
Tabela 4 – Mamíferos inventariados entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005 na REBIO do Mato Grande, município de Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Táxons indicados com um asterisco são considerados ameaçados de extinção no Rio Grande do Sul (sensu MARQUES et al., 2002), ao passo que aqueles marcados com dois asteriscos foram introduzidos na América do Sul pelo homem. Acrônimos das categorias de ameaça: Vu – vulnerável; En – em perigo; Cr – criticamente em perigo.  Acrônimos da forma de registro: Ft – flagrante fotográfico; Ov – observação visual; Cc – observação de carcaças; Vt – observação de vestígios.
TÁXONS
NOME POPULAR
REBIO MATO GRANDE


Ov
Ft
Vt
Cc
DIDELPHIMORPHIA





   DIDELPHIDAE





      Didelphis albiventris
gambá-de-orelha-branca

X
X

CINGULATA





   DASYPODIADE





      Dasypus novemcinctus
tatu-galinha
X
X
X
X
CARNIVORA





   CANIDAE





      Lycalopex gymnocercus
graxaim-do-campo
X



      Cerdocyon thous
graxaim-do-mato
X
X
X

   FELIDAE





      Oncifelis geoffroyi *Vu
gato-do-mato-grande

X


   MUSTELIDAE





      Conepatus chinga
Zorrilho

X
X

      Galictis cuja
Furão
X

X

      Lontra longicaudis *Vu
Lontra


X

   PROCYONIDAE





      Procyon cancrivorus
mão-pelada


X

RODENTIA





   HYDROCHOERIDAE





      Hydrochoerus hydrochaeris
Capivara
X
X
X
X
   MYOCASTORIDAE





      Myocastor coypus
ratão-do-banhado
X
X
X
X
LAGOMORPHA





   LEPORIDAE





      Lepus sp.  **
Lebre


X


Espécies localmente relacionadas com florestas, como o tamanduá-mirim (Tamandua tertradactyla), a paca (Cuniculus paca) e o veado-virá (Mazama guazoupira) (Silva, 1994; Mazim & Dias, 2003; Mazim et al., 2003a), o ouriço-cacheiro (Sphiggurus spinosus) – indivíduo observado na mata ciliar do arroio Grande em 2001, próximo a Br 116, não foram registradas na REBIO. Considerando que essas espécies foram registradas em ecossistemas de Planície Costeira, como na extensa mata ciliar do rio Piratini (F. Mazim, com. pess., 2003) ao norte, e na extensa mata ciliar do arroio Grande ao sul da região de estudo, é possível que essas espécies necessitem florestas de extensões consideráveis para poderem sobreviver na planície costeira. Embora existam matas ciliares e de restinga na REBIO, essas formações são de pequena extensão e situadas em áreas de constante alagamento, talvez este fato associado à pressão de caça constatada durante o estudo, inviabilize a sobrevivência destas espécies a nível local.
Por outro lado, essas florestas de configuração alongada funcionam como corredores ecológicos para algumas espécies, notadamente carnívoros. Flagrantes fotográficos revelaram o uso simultâneo de uma trilha pelo graxaim-do-mato (Cerdocyon thous) e o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) em uma mesma noite.
A lebre (Lepus sp.), espécie introduzida na América do Sul pelo homem (Silva, 1994; González, 2001), é de fácil adaptação a diferentes ecossistemas, sendo considerada praga em algumas regiões. As populações de lebres provavelmente são fruto de hibridização entre a lebre-européia (Lepus europaeus) e a lebre-africana (Lepus capensis) (González, 2001). Considerando o desconhecimento sobre a origem das populações de lebres gaúchas (Silva, 1994), optou-se por tratar esse táxon no nível de gênero e não como espécie.
No local de estudo, foi verificada reprodução de pelo menos três espécies, conforme evidenciado por flagrante fotográfico de ratão-do-banhado (Myocastor coypus), observação visual de capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e pegadas de mão-pelada (Procyon cancrivorus). Os hábitats da Planície Costeira do município de Arroio Grande foram devastados por atividades agropastoris, restando somente matas ciliares e de Restinga e trechos de banhados mais profundos. Embora a maior parte dos campos e banhados da Planície Costeira tenha sido convertida em lavouras de arroz ou áreas de pecuária e as matas tenham sido alteradas pelo sobrepastoreio do gado, algumas espécies ameaçadas de extinção, notadamente o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis), aparentam se adaptar bem as modificações do hábitat.
Entretanto, a intensa pressão exercida pela caça ilegal pode estar impactando as populações de mamíferos locais. Durante as amostragens constatou-se um grande número de carcaças de ratão-do-banhado (Myocastor coypus) espalhadas em locais com vestígios de acampamentos humanos, tal atividade deve-se principalmente ao tráfico ilegal de peles praticado na região.
Além de estudos que revelem peculiaridades sobre a biologia e ecologia dos mamíferos de grande e médio porte ocorrentes na REBIO do Mato Grande, análises populacionais das espécies ameaçadas de extinção são fundamentais para sua conservação.
Um maior controle da caça ilegal deve ser praticado pelas autoridades competentes. A educação ambiental pode surgir como ferramenta com finalidade de reverter a constante perseguição à fauna de mamíferos silvestres verificadas na região. A continuação do inventário e realização em outras localidades de características similares a área de estudo e que contemplem grupos não analisados no presente trabalho são igualmente necessários para uma perfeita visualização da realidade da mastofauna ocorrente na REBIO.
Os estudos de Ecologia Florestal no Mato Grande já demonstram sua extrema importância e relevância para toda biorregião. Tais estudos terão continuidade e serão complementados pela análise da avifauna, que irão compor ferramentas científicas comprobatórias necessárias para a efetiva implementação de uma unidade de conservação no Mato Grande a fim de conservar e preservar toda riqueza biológica ainda existente na região. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Becker, M., Dalponte, j. c. 1991. Rastros de mamíferos silvestres brasileiros: um guia de campo. Brasília: ed. Unb. 180 p.
Corrêa-Pereira, J. 2004. Fitossociologia do componente arbóreo de um remanescente florestal na Serra do Sudeste, Arroio Grande, RS. Monografia (bacharelado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas, 48p.
Cottam, G.; Curtis,J. T. 1956. The use of distance measures in phytosociological sampling. Ecology, 37(3):451-460.
Durigan, G. 2003. Métodos para análise de vegetação arbórea. In Cullen Jr., L; Rudran, R. e Valladares-Padua, C. Org. Métodos de Estudo em Biología da Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Editora UFPR, Curitiba.
González, E. M. 2001. Guía de campo de los mamíferos de Uruguay. Introducción al estudio de los mamíferos. Montevideo: VIDA SILVESTRE. Pp. 1-339.
Kilca, R.V. 2002. Alguns aspectos florísticos e estruturais de uma Floresta de Galeria no sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Monografia (bacharelado em Ciências Biológicas) - Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas, 79p.
Magurran, A. E.1988.  Ecological diversity and its measurement. Croom Helm, London, 179p
Marques, A. A. B.; Fontana, C. S.; Vélez, E.; Bencke, G. A.; Schneider, M. & Reis, R. E. Lista das espécies da fauna ameaçadas de extinção no Rio grande do Sul. Decreto n° 41.672, de 11 de junho de 2002. Porto Alegre, FZB/MCT-PUCRS/PANGEA, 2002. (Publicações Avulsas FZB, 11).
Mazim, F. D., Dias, R. A. 2003. Geografia da mastofauna da bacia do arroio Pelotas, Rio Grande do Sul. In: Congresso Brasileiro de Mastozoologia, II, 2003, Belo Horizonte, Minas Gerais. Resumos... Visconde de Rio Branco, Ed. SUPREMA. p. 172.
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