O Mato Grande está localizado na Planície Costeira interna
em região fisionômica natural marcada por terrenos de sedimentação recente
associados geomorfologicamente as transgressões e regressões marinhas
quaternárias, responsáveis pela gênese do complexo lagunar: Lagoa Mirim, canal
do São Gonçalo e Laguna dos Patos.
Inserida
no Bioma de Restinga a REBIO apresenta uma complexidade biológica que possui
associados ecossistemas de Banhados, Matas de Restinga Arenosa, Campos arenosos
secos e úmidos. Toda esta complexidade biológica está refletida nos elementos
da fauna e flora apresentando componentes florísticos pertencentes a todos
contingentes migratórios da flora estadual, ressaltando a influência atlântica
na fisionomia da reserva dada pela presença de Figueiras, Bromeliáceas e
Orquidáceas.
Quanto à fauna, ocorrem associadas aves palustres, aves migratórias do
hemisfério norte e sul tanto quanto aves florestais. Mamíferos ameaçados de
Extinção a nível estadual e regional bem como espécies generalistas que possuem
papel de extrema importância como dispersores em fragmentos florestais no sul
do estado, e que mantém suas populações ainda viáveis em toda biorregião no
Mato Grande.
A metodologia utilizada para a análise e compreensão da flora inclui
levantamento quantitativo e qualitativo. A amostragem fitocenológica do
componente arbóreo foi analisada através do método dos quadrantes centrados
(Cottam e Curtis, 1956; Waechter e Jarenkow, 1998; Durigan, 2003). A
árvore mais próxima dentro de cada quadrante com diâmetro à altura do peito
(DAP) igual ou superior a 5cm foram amostradas, anotando-se a sua altura e
distância até o ponto. Estimou-se
para as espécies amostradas os parâmetros absolutos e relativos de densidade,
freqüência, dominância, assim como os valores de importância (VI) e cobertura
(VC), o índice de diversidade de Shannon (H’) e a equabilidade de Pielou (J’) (Magurran,1988).
Quanto à metodologia empregada para os estudos da mastofauna, foram
empregados métodos que envolvem técnicas diretas e indiretas de identificação.
Para a identificação direta das espécies foram empregadas quatro armadilhas
fotográficas instaladas em trilhas freqüentemente utilizadas pelos animais (Vidolin, 2000; Wemmer et al 1996;
Tomas e Miranda, 2003), assim como a identificação visual e
localização de carcaças. A identificação indireta foi feita através da
identificação de odores, tocas, fezes e pegadas (Travi & Gaetani, 1985; Becker & Dalponte, 1991) e a
utilização de armadilhas de pegadas (plots).
As armadilhas foram montadas em locais que maximizem a possibilidade de
captura tais como trilhas ou locais próximos a água, distanciadas no mínimo a
cada 1km de forma a possibilitar uma maior independência dos dados. Armadas por
período médio de 72 horas/maquina nas saídas de campo mensais. Quirópteros
e roedores pertencentes às famílias Cricetidade, Muridae, Ctenomydae e
Echymydae foram omitidos do inventário em função de problemas logísticos e de
identificação. A seqüência taxonômica e a nomenclatura seguem González (2001).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Na
análise estrutural da sinúsia arbórea, foram inventariados até o momento 20
pontos amostrais e completada a avaliação qualitativa da flora fanerogâmica de
todos os ambientes dentro da REBIO-Mato Grande.
Nos
três transectos realizados foram amostrados 20 pontos, totalizando uma área de
trabalho de 909,327m2. A distância média estimada de 3,371m resultou
em uma densidade total de 879,771 ind/ha distribuídos em 17 espécies e 13
famílias.
As
espécies que se destacaram em VI foram Ficus luschnatiana (13,77), Ruprechtia
laxiflora (12,35), Sideroxylum obtusifolium (11,06), Zanthoxylum
rhoifolium (9,72) e Jodina rhombifolia (6,93) que acumularam 53,83%
do total (Tabela 1).
Nesta
organização em valores de importância observa-se a relevância das espécies
oriundas do contingente migratório atlântico, definindo o aspecto
fitofisionômico do Mato Grande, caracterizado pelo dossel constituído por Ficus
luschnatiana e Sideroxylum obtusifolium que apresentam valores altos
de dominância, assim como elevada área basal e altura; a submata é constituída
por Ruprechtia laxiflora, Zanthoxylum rhoifolium e Jodina
rhombifolia que possuem elevada freqüência e densidade, no entanto
apresentam baixa área basal e altura (Tabela 1).
A
região meridional da planície costeira apresenta uma flora tropical fortemente
diluída (WAECHTER & JARENKOW, 1998), no entanto esta influência tropical se
observa na floresta do Mato Grande em todas as formas de vida e ambientes,
exemplificado pelo elevado número de espécies epifíticas e herbáceas:
Bromeliáceas (7), Orquidáceas (7), Cactáceas (5) e Piperáceas (5) e arbustivas:
Acanthaceae (1) e Rubiaceae (1).
O
índice de diversidade de Shannon (2,55
nats.indivíduo-1)
é um dos mais altos já registrados para as matas de restinga do sul do Rio
Grande do Sul, assim como no resultado do índice de equabilidade de Pielou (J’)
que foi 0,90 (Tabela 2), provavelmente influenciado pela maior continentalidade
em relação a outras matas de restinga do estado, e por influência dos diversos
contingentes migratórios de flora que chegam ao Mato Grande oriundos dos corredores de diversidade como os arroios
Parapó e Moreira, canal São Gonçalo.
Ao
analisar a ecologia florestal do Mato Grande a riqueza específica e elevado
índice de diversidade da estrutura da sinúsia arbóreo denota a extrema
importância da manutenção das relações interespecíficas entre fauna e flora em
toda a biorregião do Mato Grande.
Das
espécies arbóreas amostradas 94% apresentam síndrome de dispersão Zoocórica, o
que segundo MORELLATO (1992) é uma das principais características das florestas
tropicais onde cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da floresta são
adaptadas a este tipo de dispersão, o que evidencia a influência tropical e a
riqueza estrutural da floresta do Mato Grande.
Tabela 1.
Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies arbóreas amostradas em
um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, para
indivíduos com DAP≥5cm em ordem decrescente de valor de importância, onde Ni é
o número de indivíduos amostrados, DA a densidade absoluta, DR a densidade
relativa, FA a freqüência absoluta, FR a densidade relativa, AB a área basal,
DoA a dominância absoluta, DoR a dominância relativa, IVI o índice de valor de
importância e IVC o índice de valor de cobertura.
|
Ni
|
DA
|
DR(%)
|
FA(%)
|
FR(%)
|
AB(cm2)
|
DoA(cm)
|
DoR(%)
|
VI
|
IVC
|
11.1-Ficus luschnatiana
|
3
|
32,991
|
3,75
|
10
|
3,5
|
14070,346
|
154733,62
|
34,051
|
13,77
|
37,8
|
2.3-Ruprechtia laxiflora
|
15
|
164,96
|
18,75
|
40
|
14,03
|
1771,667
|
19483,27
|
4,28
|
12,35
|
23
|
2.4-Sideroxylum obtusifolium
|
5
|
54,985
|
6,25
|
25
|
8,77
|
7506,314
|
82548,016
|
18,16
|
11,06
|
24,4
|
1.2-Zanthoxylum rhoifolium
|
11
|
120,97
|
13,75
|
35
|
12,28
|
1293,636
|
14219,307
|
3,13
|
9,72
|
16,9
|
14.1-Jodina rhombifolia
|
6
|
65,982
|
7,5
|
25
|
8,77
|
1863,676
|
20495,113
|
4,51
|
6,93
|
12
|
14.2- Eugenia uniflora
|
8
|
87,977
|
10
|
25
|
8,77
|
465,295
|
5116,916
|
1,126
|
6,63
|
11,1
|
4.3-Vitex megapotamica
|
3
|
32,991
|
3,75
|
15
|
5,26
|
3774,707
|
41510,996
|
9,13
|
6,05
|
12,9
|
1.1-Casearia silvestris
|
6
|
65,982
|
7,5
|
20
|
7,01
|
1259,026
|
13845,69
|
3,046
|
5,85
|
10,5
|
2.1-Diospyrus inconstans
|
4
|
43,988
|
5
|
15
|
5,26
|
2762,209
|
30376,41
|
6,684
|
5,65
|
11,7
|
3.4-Eugenia uruguayensis
|
5
|
54,985
|
6,25
|
20
|
7,01
|
701,095
|
7710,042
|
1,69
|
4,98
|
7,94
|
5.1-Syagrus rommanzofianum
|
1
|
10,997
|
1,25
|
5
|
1,75
|
412,541
|
4536,772
|
10,979
|
4,66
|
12,2
|
2.1-Ficus organensis
|
3
|
32,991
|
3,75
|
10
|
3,5
|
2753,22
|
30277,556
|
6,663
|
4,64
|
10,4
|
5.4-Chrysophylum marginatum
|
5
|
54,985
|
6,25
|
15
|
5,26
|
983,206
|
10812,458
|
2,379
|
4,63
|
8,63
|
9.1-Cereus hildmanianus
|
2
|
21,994
|
2,5
|
10
|
3,5
|
729,03
|
8017,247
|
1,764
|
2,59
|
4,26
|
3.1-Chrysophylum gonocarpum
|
1
|
10,997
|
1,25
|
5
|
1,75
|
498,646
|
5483,68
|
1,206
|
1,40
|
2,46
|
17.2-Scutia buxifolia
|
1
|
10,997
|
1,25
|
5
|
1,75
|
444,133
|
4884,194
|
1,074
|
1,36
|
2,32
|
20.2-Erythroxylum argentinum
|
1
|
10,997
|
1,25
|
5
|
1,75
|
31,831
|
350,05
|
0,077
|
1,03
|
1,33
|
Tabela 2.
Levantamentos fitossociológicos realizados no sul do Brasil, indicando o autor,
a localização da área de estudo, os métodos de amostragem, número de espécies
(Ne), densidade total por área (DTA), o índice de diversidade de Shannon (H’) e
o índice de equabilidade de Pielou (J’).
Fonte
|
Método
|
Ne
|
DTA
|
H’
|
J’
|
(ind/ha)
|
SCHLEE Jr., 2000
|
Parcelas
|
34
|
1224
|
2,53
|
0,71
|
Capão do Leão, RS
|
0,5
ha
|
31°47’S, 52°15’W
|
|
Área de Formações Pioneiras
|
|
KILCA, 2002
|
Parcelas
|
|
|
|
|
Rio Piratini, RS
|
0,5 ha
|
37
|
2202
|
2,87
|
0,79
|
31°54’S,
52°39’W
|
0,5 ha
|
29
|
1734
|
2,31
|
0,69
|
Floresta Estacional Semidecidual
|
|
|
|
|
|
CORRÊA-PEREIRA, 2004
|
Parcelas
|
32
|
1676
|
2,64
|
0,76
|
Arroio Grande, RS
|
0,5
ha
|
32°04’S, 53°05'W
|
|
Floresta Estacional Semidecidual
|
|
Este estudo
|
Quadrantes
|
17
|
880
|
2,55
|
0,90
|
Arroio Grande, RS
|
20
pontos
|
|
|
|
|
32°08'S, 52°44'W
|
|
|
|
|
|
Área de Formações Pioneiras
|
|
|
|
|
|
WAECHTER & JARENKOW, 1998
|
Quadrantes
|
12
|
791
|
1,886
|
|
Taim, RS
|
30
pontos
|
|
|
|
|
32°30' a 32°50'S, 52°20' a 52°40'W
|
|
|
|
|
|
Área de Formações Pioneiras
|
|
|
|
|
|
Tabela 3.
Relação das espécies amostradas em um remanescente de Mata de Restinga, na
Reserva Biológica do Mato Grande, Arroio Grande, RS, com a categoria
sucessional (Cat. Suc.), onde Pio=pioneira, Sin=secundária inicial,
Sta=secundária tardia; com síndrome de dispersão (Sín. Disp.), onde Ane=
anemocórica, Aut= autocória e Zoo= zoocória; e com os contingentes migratórios.
Família
|
Espécie
|
Nome
popular
|
Cat. Suc.
|
Sín. Disp.
|
Contigente
|
Flacourtiaceae
|
Casearia sylvestris
|
chá-de-bugre
|
Sin
|
Zoo
|
pantropical
|
Rutaceae
|
Zanthoxylum
rhoifolium
|
Mamica-de-cadela
|
Sin
|
Zoo
|
pantropical
|
Moraceae
|
Ficus organensis
|
figueira-de-folha-miúda
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Ebenaceae
|
Diospyrus inconstans
|
maria-preta
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Polygonaceae
|
Ruprechtia laxifolia
|
marmeleiro-do-mato
|
Sin
|
Ane
|
oeste
|
Sapotaceae
|
Sideroxylum obtusifolium
|
Quixadeira
|
Sta
|
Zoo
|
anfiatlântico
|
Sapotaceae
|
Chrysophylum gonocarpum
|
aguaí-da-serra
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Myrtaceae
|
Eugenia uruguayensis
|
Batinga-vermelha
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Lamiaceae
|
Vitex magapotamica
|
Tarumã
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Arecaceae
|
Syagrus rommanzofiana
|
Gerivá
|
Sin
|
Zoo
|
neotropical
|
Sapotaceae
|
Chrysophylum marginatum
|
aguaí-vermelho
|
Pio
|
Zoo
|
pantropical
|
Cactaceae
|
Cereus hildimanianus
|
mandacarú
|
Sta
|
Zoo
|
neotropical
|
Moraceae
|
Ficus luschnatiana
|
figueira-de-folha-grande
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Santalacaceae
|
Jodina rhombifolia
|
cancorosa-de-três-pontas
|
Sta
|
Zoo
|
chaquenho
|
Myrtaceae
|
Eugenia uniflora
|
pitangueira
|
Sin
|
Zoo
|
pantropical
|
Rhamnaceae
|
Scutia buxifolia
|
Corunilha
|
Sin
|
Zoo
|
pantropical
|
Erythroxylaceae
|
Erythroxylum
argentinum
|
Cocão
|
Sta
|
Zoo
|
pantropical
|
Quanto a analise da mastofauna ocorrente na região de estudo, à exceção
dos quirópteros e dos roedores pertencentes às Famílias Cricetidae, Muridae,
Ctenomydae e Echymydae, omitidos em função de problemas logísticos e de
identificação, foram registradas 12 espécies de mamíferos pertencentes a 09
famílias (Tabela 4). Dentre as espécies encontradas, o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis) são consideradas ameaçadas de
extinção no Rio Grande do Sul (Marques
et al., 2002). O gato-maracajá (Leopardus
wiedii), igualmente ameaçado, carece de confirmação. Entretanto, a
ocorrência desse felino é esperada, considerando que foi registrado em estudo
anterior em área de geomorfologia e vegetação similar à área de estudo. Sendo
considerada uma espécie de hábitos principalmente arborícola, a presença deste
felino provavelmente ocorra devido ao uso dos corredores de mata ciliar que
ligam ambientes florestais da Serra do Sudeste com ambientes de Restinga da
Planície Costeira.
Outras espécies comumente observadas no sul do Rio Grande do Sul (MAZIM et
al, 2002; Mazim & Dias,
2003; Mazim et al., 2003a,
b) não foram detectadas durante o período de estudo, embora tenham sido
registradas no município, em outras oportunidades ou localidades pertencentes à
Planície Costeira: cuíca-de-cauda-grossa (Lutreolina
crassicaudata)– carcaça
localizada na Estância Santa Helena em 2000; tatu-peludo (Euphractus sexcinctus) – indivíduo observado nesta mesma
propriedade em 1999 e registrado com armadilha fotográfica em 2004.
Tabela 4 – Mamíferos inventariados entre dezembro de 2004 e fevereiro
de 2005 na REBIO do Mato Grande, município de Arroio Grande, Rio Grande do Sul.
Táxons indicados com um asterisco são considerados ameaçados de extinção no Rio
Grande do Sul (sensu MARQUES et al.,
2002), ao passo que aqueles marcados com dois asteriscos foram introduzidos na
América do Sul pelo homem. Acrônimos das categorias de ameaça: Vu – vulnerável;
En – em perigo; Cr – criticamente em perigo.
Acrônimos da forma de registro: Ft – flagrante fotográfico; Ov –
observação visual; Cc – observação de carcaças; Vt – observação de vestígios.
TÁXONS
|
NOME POPULAR
|
REBIO MATO GRANDE
|
|
|
Ov
|
Ft
|
Vt
|
Cc
|
DIDELPHIMORPHIA
|
|
|
|
|
|
DIDELPHIDAE
|
|
|
|
|
|
Didelphis albiventris
|
gambá-de-orelha-branca
|
|
X
|
X
|
|
CINGULATA
|
|
|
|
|
|
DASYPODIADE
|
|
|
|
|
|
Dasypus novemcinctus
|
tatu-galinha
|
X
|
X
|
X
|
X
|
CARNIVORA
|
|
|
|
|
|
CANIDAE
|
|
|
|
|
|
Lycalopex gymnocercus
|
graxaim-do-campo
|
X
|
|
|
|
Cerdocyon thous
|
graxaim-do-mato
|
X
|
X
|
X
|
|
FELIDAE
|
|
|
|
|
|
Oncifelis geoffroyi *Vu
|
gato-do-mato-grande
|
|
X
|
|
|
MUSTELIDAE
|
|
|
|
|
|
Conepatus chinga
|
Zorrilho
|
|
X
|
X
|
|
Galictis cuja
|
Furão
|
X
|
|
X
|
|
Lontra longicaudis *Vu
|
Lontra
|
|
|
X
|
|
PROCYONIDAE
|
|
|
|
|
|
Procyon cancrivorus
|
mão-pelada
|
|
|
X
|
|
RODENTIA
|
|
|
|
|
|
HYDROCHOERIDAE
|
|
|
|
|
|
Hydrochoerus hydrochaeris
|
Capivara
|
X
|
X
|
X
|
X
|
MYOCASTORIDAE
|
|
|
|
|
|
Myocastor coypus
|
ratão-do-banhado
|
X
|
X
|
X
|
X
|
LAGOMORPHA
|
|
|
|
|
|
LEPORIDAE
|
|
|
|
|
|
Lepus sp.
**
|
Lebre
|
|
|
X
|
|
Espécies localmente relacionadas com florestas, como o tamanduá-mirim (Tamandua tertradactyla), a paca (Cuniculus
paca) e o veado-virá (Mazama
guazoupira) (Silva, 1994; Mazim & Dias, 2003; Mazim et al., 2003a), o ouriço-cacheiro (Sphiggurus spinosus) – indivíduo observado na mata ciliar do arroio
Grande em 2001, próximo a Br 116, não foram registradas na REBIO. Considerando
que essas espécies foram registradas em ecossistemas de Planície Costeira, como
na extensa mata ciliar do rio Piratini (F.
Mazim, com. pess., 2003) ao norte, e na extensa mata ciliar do arroio
Grande ao sul da região de estudo, é possível que essas espécies necessitem
florestas de extensões consideráveis para poderem sobreviver na planície
costeira. Embora existam matas ciliares e de restinga na REBIO, essas formações
são de pequena extensão e situadas em áreas de constante alagamento, talvez
este fato associado à pressão de caça constatada durante o estudo, inviabilize
a sobrevivência destas espécies a nível local.
Por outro lado, essas florestas de configuração alongada funcionam como
corredores ecológicos para algumas espécies, notadamente carnívoros. Flagrantes
fotográficos revelaram o uso simultâneo de uma trilha pelo graxaim-do-mato (Cerdocyon thous) e o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) em uma mesma noite.
A lebre (Lepus sp.), espécie
introduzida na América do Sul pelo homem (Silva,
1994; González, 2001), é de fácil adaptação a diferentes ecossistemas,
sendo considerada praga em algumas regiões. As populações de lebres
provavelmente são fruto de hibridização entre a lebre-européia (Lepus europaeus) e a lebre-africana (Lepus capensis) (González, 2001). Considerando o desconhecimento sobre a
origem das populações de lebres gaúchas (Silva,
1994), optou-se por tratar esse táxon no nível de gênero e não como espécie.
No local de estudo, foi verificada reprodução de pelo menos três espécies,
conforme evidenciado por flagrante fotográfico de ratão-do-banhado (Myocastor coypus),
observação visual de capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e
pegadas de mão-pelada (Procyon cancrivorus). Os hábitats
da Planície Costeira do município de Arroio Grande foram devastados por
atividades agropastoris, restando somente matas ciliares e de Restinga e
trechos de banhados mais profundos. Embora a maior parte dos campos e banhados
da Planície Costeira tenha sido convertida em lavouras de arroz ou áreas de pecuária
e as matas tenham sido alteradas pelo sobrepastoreio do gado, algumas espécies
ameaçadas de extinção, notadamente o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra
longicaudis), aparentam se adaptar bem as modificações do hábitat.
Entretanto, a intensa pressão exercida pela caça ilegal pode estar
impactando as populações de mamíferos locais. Durante as amostragens
constatou-se um grande número de carcaças de ratão-do-banhado (Myocastor coypus)
espalhadas em locais com vestígios de acampamentos humanos, tal atividade
deve-se principalmente ao tráfico ilegal de peles praticado na região.
Além de estudos que revelem peculiaridades sobre a biologia e ecologia
dos mamíferos de grande e médio porte ocorrentes na REBIO do Mato Grande,
análises populacionais das espécies ameaçadas de extinção são fundamentais para
sua conservação.
Um maior controle da caça ilegal deve ser praticado pelas autoridades
competentes. A educação ambiental pode surgir como ferramenta com finalidade de
reverter a constante perseguição à fauna de mamíferos silvestres verificadas na
região. A continuação do inventário e realização em outras localidades de
características similares a área de estudo e que contemplem grupos não
analisados no presente trabalho são igualmente necessários para uma perfeita
visualização da realidade da mastofauna ocorrente na REBIO.
Os estudos de Ecologia Florestal no Mato Grande já demonstram sua extrema
importância e relevância para toda biorregião. Tais estudos terão continuidade
e serão complementados pela análise da avifauna, que irão compor ferramentas
científicas comprobatórias necessárias para a efetiva implementação de uma
unidade de conservação no Mato Grande a fim de conservar e preservar toda
riqueza biológica ainda existente na região.
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